O envelhecimento é um processo caracterizado por alterações fisiológicas progressivas e contínuas do organismo. Esse é um tema muito relevante no cenário atual, devido à tendência ao envelhecimento populacional. Segundo a OMS, até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos e a população mundial de idosos será de aproximadamente 1,2 bilhões.
TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
Existem dois tipos de teorias do envelhecimento: as genéticas e as estocásticas.
Teorias genéticas
- Teoria dos telômeros:
Os telômeros são seqüências de nucleotídeos que garantem a estabilidade genômica, protegendo as extremidades dos cromossomos da sua degeneração e da fusão com outros cromossomos. A cada replicação celular, segmentos de DNA são perdidos, o que provoca o encurtamento progressivo desses telômeros. Existe uma enzima chamada telomerase, que é responsável por recuperar tais segmentos de DNA perdidos. Ela adiciona seqüências de nucleotídeos específicas na extremidade dos cromossomos. Com o processo do envelhecimento, há uma redução na síntese de telomerase, acarretando um rápido encurtamento dos telômeros e caracterizando uma desaceleração da multiplicação celular. No entanto, existem duas células em que a telomerase está continuamente ativa: as células germinativas primordiais e as células cancerosas, que acabam então protegidas de tal encurtamento.
- Teoria Neuro-endócrina
O sistema neuro-endócrino é controlado pela hipófise e pelo hipotálamo, e sob a influência de neurotransmissores e neuropeptídeos, é responsável pela regulação hormonal, interferindo no metabolismo, no sistema reprodutor e em diversos outros aspectos da fisiologia do organismo. Sua atividade é regulada por genes específicos, que alteram a sua expressão com o processo do envelhecimento, caracterizando algumas alterações hormonais comuns com o avanço da idade, dentre elas a redução da produção de GH, T3, T4 e estrógeno e o aumento do cortisol.
Teorias estocásticas
- Teoria da Glicosilação
A glicosilação de proteínas leva à formação de ligações cruzadas graduais no colágeno, o que leva a um comprometimento estrutural e funcional dos tecidos. Com o avanço da idade, há uma redução da sensibilidade dos tecidos à insulina, caracterizando uma elevação nos níveis de glicose sanguínea, aumentando a chance de ocorrerem reações de glicosilação. É estabelecida uma ligação covalente entre um grupo aldeído livre do açúcar e um grupo amina livre da proteína, formando os AGEs (produtos finais da glicosilação avançada), que alteram a estrutura das fibras de colágeno. Além disso, a ação dos AGEs acarreta um aumento da pressão arterial devido à glicosilação de LDL, uma perda da acomodação ocular, a incapacidade funcional das células T de memória, redução da capacidade antioxidante do sangue.
- Teoria do stress oxidativo
O conceito de radicais livres é muito importante para o entendimento dessa teoria. Radicais livres são substâncias instáveis quimicamente e altamente reativas, que apresentam um ou mais elétrons desemparelhados. O stress oxidativo é caracterizado por um aumento do número de compostos oxidantes se comparado às defesas antioxidantes do organismo. Tais defesas do organismo são garantidas pela atuação de 3 enzimas principais: superóxido dismutase, glutationa peroxidase e catalase, cada uma com seu respectivo mecanismo de reação. A superóxido dismutase é responsável por converter o superóxido em peróxido de hidrogênio, que é posteriormente convertido em compostos mais comuns e menos reativos, como água, por exemplo, pela ação da catalase e da glutationa peroxidase. Esse stress oxidativo causa diversos danos às estruturas celulares (alteração funcional e prejuízo das funções vitais) em tecidos e órgãos, como músculo, fígado, tecido adiposo, vascular e cerebral. A mitocôndria é a principal fonte de produção de ERO (espécies reativas de oxigênio), que não são radicais livres, mas são tão reativos quanto, podendo inclusive gerar radicais livres. Tais compostos contribuem para o aumento de lesões e mutações nesse compartimento celular, o que acaba interferindo no processo de produção de energia e, conseqüentemente nas funções vitais da célula. As ERO também podem acarretar mutações no DNA mitocondrial promovendo a síntese de proteínas disfuncionais pertencentes aos complexos da cadeia respiratória mitocondrial. As ERO são capazes de gerar danos nas moléculas de DNA, nas proteínas, além de destruírem as membranas, por meio de reações com os ácidos graxos insaturados, propagando uma série de reações de peroxidação lipídica, que vão acabar causando a lise da célula. Enfim, o envelhecimento pode ser relacionado a um acúmulo de lesões moleculares provocadas pelas reações de tais radicais livres com componentes celulares ao longo da vida, levando à perda de funcionalidade e ao desenvolvimento de doenças.
Bibliografia:
J. KNAPOWSKI, K. WIECZOROWSKA-TOBIS, J. WITKOWSKI - Pathophysiology of Ageing - Department of Pathophysiology, University of Medical Sciences, Poznan, Poland
Mota, M. Paula; Figueiredo, Pedro A. ; Duarte, José A. - Teorias biológicas do envelhecimento
Muito bom!!!
ResponderExcluirDeu para dar uma clareada nas teorias. Entretanto, sabemos que há várias controvérsias entre elas. Sugiro um post sobre isso mais para frente, creio que será bastante polêmico e interessante.
Parabéns pela síntese.
Abraços.